Tatiana Coelho Sampaio. Um nome que despontou nas últimas semanas nos noticiários. Ela não promoveu festas nem escândalos, nem casou-se ou namorou qualquer artista nem fez qualquer menção estúpida ou pueril sobre o próprio corpo ou sobre alguém famoso para ganhar notoriedade nas redes sociais. Tatiana simplesmente fez algo sublime e que pode lhe dar até mesmo um prêmio Nobel de Medicina. Mas calma lá, antes de sonharmos, vamos contar o que ela fez.
Tatiana, uma pesquisadora brasileira da UFRJ, está desenvolvendo um trabalho que pode revolucionar completamente o tratamento de lesões na medula espinhal. Estamos falando de pessoas que perderam movimentos, esperança, autonomia… podendo reconquistar sua liberdade graças ao trabalho dessa cientista. Ah e como é bom escrever que Tatiana é uma cientista!
Ela não está sozinha nessa jornada de transformar vidas através da ciência. Por trás dos laboratórios, microscópios e equações complexas, existem mulheres brilhantes que dedicam suas vidas a fazer descobertas que impactam diretamente nossa saúde, nosso bem-estar e nosso futuro. E sabe o que é mais fascinante? Elas fizeram isso enfrentando um mundo científico que, historicamente, foi dominado por homens.
Hoje, quero compartilhar com você as histórias de dez mulheres na ciência brasileira que estão escrevendo um novo capítulo – não apenas para a pesquisa nacional, mas para todas nós que acreditamos que lugar de mulher é onde ela quiser estar.
A Revolução Silenciosa nos Laboratórios
Tatiana Coelho de Sampaio: Devolvendo Movimento e Esperança

Comecemos pela conquista mais recente: Tatiana Coelho de Sampaio. Sua pesquisa sobre regeneração da medula espinhal representa um dos maiores avanços na neurociência brasileira. Para você entender a dimensão disso: quando alguém sofre uma lesão medular grave, tradicionalmente os médicos tinham pouco a oferecer além de reabilitação e adaptação. O tecido nervoso não se regenera naturalmente. Mas Tatiana está mudando essa realidade. Seu trabalho explora terapias celulares e com biomateriais que podem estimular a regeneração neural. Esclarecendo: ela está encontrando formas de fazer o que era antes “impraticável”, acontecer. E isso não é apenas ciência – é esperança materializada em pesquisa. Merece ou não merece um Nobel? 🤩
Mayana Zatz: A Geneticista que Decifra Nossos Códigos

Se você acompanha notícias sobre genética no Brasil, certamente já ouviu falar de Mayana Zatz. Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, ela é referência mundial em pesquisas sobre doenças neuromusculares. Suas descobertas já ajudaram milhares de famílias a entenderem condições genéticas raras e encontrarem caminhos para tratamento.
O trabalho de Mayana nos lembra que cada um de nós carrega uma história única escrita em nosso DNA – e que mulheres na ciência como ela estão, decifrando essas histórias para criar futuros mais saudáveis.
Jaqueline Goes de Jesus: A Detetive Viral
Durante a pandemia de COVID-19, um nome feminino brasileiro ecoou pelo mundo: Jaqueline Goes de Jesus. Ela liderou a equipe que sequenciou o genoma do coronavírus em tempo recorde – apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso no Brasil.

Sabe aquela sensação de estar no escuro durante uma crise? Jaqueline foi quem acendeu o primeiro facho de luz. Seu trabalho permitiu que autoridades sanitárias entendessem qual variante estava circulando no país e tomassem decisões mais informadas. Ela literalmente salvou vidas com sua rapidez e competência.
Sônia Guimarães: Quebrando Barreiras na Física
Sônia Guimarães foi a primeira mulher negra doutora em física no Brasil. Deixe isso afundar por um momento. A PRIMEIRA. Sua trajetória na física de semicondutores não apenas abriu portas – ela derrubou paredes inteiras para que outras mulheres, especialmente mulheres negras, pudessem sonhar com carreiras científicas.

Hoje professora titular no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Sônia representa a intersecção entre excelência científica e a luta por espaços mais diversos e inclusivos na ciência brasileira.
Por que Essas Histórias Importam para Você?
Você pode estar se perguntando: “Mas eu não sou cientista. Por que isso é relevante para minha vida?” Deixe-me te contar uma coisa.
Cada vez que você toma um medicamento para controlar sua pressão arterial, cada vez que faz um exame de sangue mais preciso, cada vez que se beneficia de uma vacina – você está colhendo os frutos do trabalho de cientistas. E quando essas cientistas são mulheres na ciência, elas trazem perspectivas únicas que historicamente foram ignoradas.
Mulheres pesquisadoras tendem a incluir em seus estudos questões que afetam especificamente nossa saúde feminina. Elas questionam por que durante décadas a medicina cardiovascular foi estudada quase exclusivamente em corpos masculinos. Elas investigam as particularidades hormonais que nos tornam únicas. Elas não aceitam o “sempre foi assim” como resposta final.
Nise da Silveira: A Revolucionária da Saúde Mental
Falando em questionar o estabelecido, não podemos falar de mulheres na ciência brasileira sem mencionar Nise da Silveira. Psiquiatra alagoana que revolucionou o tratamento de doenças mentais no Brasil ao se opor aos métodos brutais da época – como lobotomia e eletrochoque.
Nise introduziu a terapia ocupacional e o uso da arte como ferramenta terapêutica. Em uma época em que pacientes psiquiátricos eram tratados como menos que humanos, ela enxergava pessoas. Seu legado nos alcança hoje cada vez que defendemos uma abordagem humanizada à saúde mental. Nise já foi inclusive retratada no cinema (num trabalho incrível de Glória Pires) em 2016:
Bertha Lutz: Cientista e Sufragista

Bertha Lutz foi uma das cientistas mais completas que o Brasil já conheceu. Bióloga especializada em anfíbios, ela descobriu e catalogou diversas espécies. Mas Bertha não separava sua paixão pela ciência de sua luta pelos direitos das mulheres. Foi uma das líderes do movimento sufragista brasileiro e ajudou a garantir nosso direito ao voto.
Ela nos mostrou que ser cientista e ser ativista não são caminhos excludentes, mas complementares. Afinal, ciência sem consciência social é ciência incompleta.
A Jornada Continua: Novas Gerações, Novos Desafios
Thaís Russomano: A Médica Espacial

Já imaginou ser a médica responsável por cuidar da saúde de astronautas? Thaís Russomano fez disso sua especialidade. Pioneira em medicina aeroespacial no Brasil, ela pesquisa como o corpo humano se comporta em condições de microgravidade.
Seu trabalho não beneficia apenas astronautas – as descobertas sobre perda de massa óssea e muscular no espaço ajudam a entender e tratar condições similares aqui na Terra, especialmente em pessoas idosas ou acamadas.
Graziela Maciel Barroso: A Guardiã da Flora

Botânica renomada, Graziela dedicou mais de 70 anos ao estudo da flora brasileira. Ela catalogou e descreveu milhares de espécies de plantas, muitas delas com potencial medicinal ainda inexplorado.
Em um tempo onde sustentabilidade e medicina natural ganham cada vez mais espaço em nossas vidas, o trabalho de Graziela representa um tesouro de conhecimento sobre a biodiversidade que nos cerca.
Johanna Döbereiner: A Alquimista do Solo
Johanna Döbereiner revolucionou a agricultura brasileira com suas pesquisas sobre fixação biológica de nitrogênio. Traduzindo para nossa linguagem de café: ela descobriu como fazer plantas absorverem nitrogênio do ar com ajuda de bactérias, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos.

Isso significa alimentos mais saudáveis no nosso prato, menor impacto ambiental e agricultura mais sustentável. Cada vez que você escolhe produtos orgânicos ou se preocupa com a origem do que come, você está alinhada com o legado de Johanna.
Mariana Vasconcelos: Desvendando o Cérebro
Neurocientista contemporânea, Mariana Vasconcelos pesquisa os mecanismos cerebrais relacionados ao envelhecimento e doenças neurodegenerativas. Seu trabalho é especialmente relevante para as mulheres acima dos 40 anos, que começamos a pensar mais ativamente em saúde cerebral e prevenção de condições como o Alzheimer.
As mulheres na ciência de hoje estão debruçadas sobre questões que nos afetarão diretamente nas próximas décadas – e isso não é apenas reconfortante, é empoderador e gratificante.
Um Legado que se Constrói Todos os Dias
Sabe aquela frase “você não pode ser o que você não vê”? Durante muito tempo, meninas olhavam para o mundo científico e não viam rostos que se pareciam com os delas. Não viam mulheres, não viam histórias de conciliação entre maternidade e carreira científica, não viam corpos diversos, não viam realidades que dialogassem com as suas próprias experiências.
Essas dez mulheres (e tantas outras não mencionadas aqui) estão mudando essa narrativa. Elas provam que mulheres na ciência não são exceções admiráveis, mas uma realidade crescente e necessária.
O Contexto Histórico que Não Podemos Esquecer
Voltemos um pouco no tempo. No século XIX e início do XX, mulheres eram ativamente desencorajadas (quando não proibidas) de estudar ciências. Acreditava-se que nossos cérebros não eram “adequados” para o pensamento científico. Universidades negavam entrada a mulheres. Laboratórios não as aceitavam como pesquisadoras.
Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um Nobel, teve que lutar para ser reconhecida como coautora de sua própria pesquisa – inicialmente, queriam creditar tudo ao marido. Rosalind Franklin fez descobertas fundamentais sobre a estrutura do DNA, mas o Nobel foi para os homens que usaram seus dados.
No Brasil, a história não foi diferente. As primeiras mulheres a entrarem em universidades enfrentaram escárnio, isolamento e barreiras institucionais. Muitas desistiram. Mas algumas persistiram – e abriram caminho para que hoje tenhamos um cenário diferente.
O Que Podemos Aprender Com Essas Histórias
Conversando com você aqui, tomando esse café virtual, percebo que essas histórias de mulheres na ciência nos ensinam lições que vão além dos laboratórios:
Persistência vale a pena. Todas essas mulheres enfrentaram “nãos”, portas fechadas, descrença. E seguiram em frente.
Diversidade enriquece. Quando incluímos perspectivas diferentes – de gênero, raça, origem social – a ciência se torna mais completa, mais humana, mais relevante para todos.
Nosso bem-estar depende da ciência. Cada descoberta sobre saúde, nutrição, meio ambiente nos afeta diretamente. Apoiar mulheres na ciência é apoiar nosso próprio futuro.
Representatividade importa. Quando meninas veem cientistas que se parecem com elas, elas começam a se imaginar naquele papel. O sonho se torna possível.

O Futuro na Ciência é Também Feminino
Olhando para frente, há motivos para otimismo. Hoje, mais mulheres cursam graduações científicas do que nunca. Programas de incentivo estão sendo criados. A discussão sobre equidade de gênero na ciência ganhou espaço.
Mas – e tem um “mas” importante aqui – ainda há um longo caminho pela frente. Mulheres ainda são minoria em posições de liderança científica. Ainda recebem menos financiamento para pesquisas. Ainda precisam escolher entre maternidade e carreira com mais frequência que os homens. Ainda enfrentam assédio e discriminação.
A boa notícia? Cada vez que uma de nós apoia uma cientista, compartilha uma descoberta feita por uma mulher, incentiva uma menina a estudar ciências, estamos construindo esse futuro mais equitativo.
E isso não é apenas sobre justiça social (embora isso já seja razão suficiente). É sobre termos a melhor ciência possível. É sobre não desperdiçarmos metade do potencial humano. É sobre garantirmos que as pesquisas que moldarão nosso futuro incluam as vozes e experiências de todas nós.
Um Convite à Reflexão
Então, minha amiga, aqui está minha pergunta para você: como podemos, em nossa vida cotidiana, apoiar as mulheres na ciência?
Pode ser algo simples: acompanhar perfis de divulgação científica liderados por mulheres nas redes sociais. Presentear sua sobrinha com um kit de ciências ao invés de apenas bonecas. Questionar quando todas as referências em uma reportagem científica são masculinas. Valorizar e compartilhar descobertas feitas por pesquisadoras brasileiras.
Pode ser algo mais direto: apoiar políticas públicas que financiem pesquisa científica. Defender licenças maternidade e paternidade mais equitativas nas universidades. Questionar vieses de gênero em processos seletivos e de financiamento científico.
Cada gesto conta. Cada conversa importa. Cada menina que cresce sabendo que pode ser cientista é uma vitória.
Suas Histórias Também Importam
E você? Teve alguma mulher cientista que inspirou sua vida? Conhece alguma pesquisadora fazendo trabalhos incríveis? Ou talvez você mesma trabalhe em áreas relacionadas à ciência e tecnologia?
Adoraria ouvir suas histórias e reflexões. Compartilhe nos comentários suas experiências, suas referências, suas filhas e netas que sonham com aventuras científicas. Porque quando falamos sobre mulheres na ciência, estamos falando sobre todas nós – sobre nosso poder de transformar o mundo através do conhecimento.
Vamos continuar essa conversa? Afinal, toda grande descoberta científica começa com curiosidade e diálogo – exatamente o que estamos fazendo aqui, você e eu, neste momento.
Com admiração por todas as mulheres que ousam questionar, investigar e descobrir,
Um abraço caloroso! ☕💜