Filmes em Cartaz no Cinema – Destaques de 30/10/2025

Scott Cooper (Coração Louco) transforma o livro de Warren Zane em uma jornada melancólica e poética sobre identidade, culpa e redenção — temas que sempre pareceram pulsar nas canções do próprio “Boss”. O filme evita o tom biográfico convencional e se aproxima mais de uma elegia visual, embalada por paisagens outonais e silêncios carregados de sentido. Jeremy Allen White entrega aqui uma atuação de rara intensidade: contida, visceral e impregnada de vulnerabilidade. Por alguns instantes, esquecemos completamente o chef inquieto de The Bear e acreditamos estar diante de um homem real, fragmentado e à beira do colapso. Cooper filma com respeito e lirismo, mas sem cair na reverência fácil — um equilíbrio difícil de alcançar, e que o filme mantém até o fim.

O novo trabalho de Marco Dutra, reafirma o interesse do diretor por narrativas que transitam entre o real e o sobrenatural. Aqui, ele constrói um drama de atmosfera densa e ritmo contido, no qual o mistério serve mais como pretexto para explorar as zonas obscuras da memória e da perda do que para oferecer sustos ou reviravoltas. A direção é cuidadosa, com uso expressivo da luz e do som, mas o roteiro, embora ambicioso, às vezes se perde em elipses que enfraquecem o impacto emocional. O filme não busca agradar nem chocar — aposta na ambiguidade e no desconforto, deixando o público à deriva entre o concreto e o simbólico, como se o próprio luto fosse um território a ser desenterrado.

O diretor Michel Franco mantém sua marca autoral de abordar o desconforto humano com uma frieza calculada. O filme, protagonizado por Jessica Chastain e Isaac Hernández, constrói um retrato silencioso sobre desejo, frustração e reconciliação emocional, sem recorrer a grandes gestos dramáticos. A direção aposta em planos longos e na contenção dos atores, o que reforça o tom contemplativo, mas também distancia o espectador em alguns momentos. Chastain entrega uma performance precisa, embora o roteiro nem sempre sustente a intensidade proposta. O resultado é um drama elegante e introspectivo, mais admirável pela forma do que pelo impacto emocional que provoca.

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