Filmes em Cartaz nos Cinemas

Filmes em Cartaz nos Cinemas – Destaques de Quinta 18 de dezembro de 2025

Divirta-se Cinema

AVATAR FOGO E CINZAS

Ficção / Aventura – EUA

Direção: James Cameron

Roteiro: James Cameron,

Elenco: Elizabeth Olsen, Miles Teller, Callum Turner, Da’Vine Joy Randolph, John Early e Olga Merediz

Produção: Star Thrower Entertainment / A24 Pictures

Quase três anos após “Avatar: O Caminho da Água” arrecadar mais de US$ 2 bilhões globalmente, James Cameron retorna a Pandora com “Avatar: Fogo e Cinzas”, o terceiro capítulo de sua ambiciosa saga de ficção científica. Com 195 minutos de duração — tornando-se o filme mais longo da franquia —, esta nova jornada promete expandir o universo criado pelo cineasta enquanto aprofunda os conflitos que definiram a série. A questão é: será que Cameron consegue equilibrar seu indiscutível talento visual com uma narrativa que, para muitos críticos, começa a mostrar sinais de fadiga?

A Família Sully em Luto e também em Guerra

“Fogo e Cinzas” retoma a história após os eventos devastadores do filme anterior, com a família Sully ainda processando a perda trágica de Neteyam, filho de Jake Sully. Os Sully encontram-se em um momento delicado: precisam proteger seus filhos enquanto o luto ameaça fragmentar a unidade familiar que sempre foi seu maior trunfo.

A vez e hora do povo das cinzas!

A trama ganha nova dimensão com a introdução dos Mangkwan, também conhecidos como o Povo das Cinzas — uma tribo Na’vi militante e agressiva que habita as regiões vulcânicas de Pandora. Liderados pela formidável Varang (Oona Chaplin), esses Na’vi representam algo inédito na franquia: uma ameaça que vem de dentro da própria cultura nativa do planeta.

A origem do conflito com o Povo das Cinzas revela camadas interessantes de complexidade moral. Varang não é simplesmente uma vilã unidimensional — ela é uma líder que, após ver sua tribo devastada por desastres naturais e aparentemente abandonada por Eywa (a força espiritual que governa Pandora), decidiu buscar poder através de meios mais destrutivos. “O fogo desceu da montanha e queimou nossa floresta. Meu povo clamou por ajuda, mas Eywa não veio”, declara a personagem, estabelecendo motivações que transcendem o maniqueísmo simples.

Essa rejeição da espiritualidade pacífica em favor de uma filosofia de sobrevivência pela força coloca os Mangkwan em rota de colisão não apenas com a família Sully, mas com os próprios valores fundamentais que definem a relação dos Na’vi com Pandora. Para complicar ainda mais, Varang forma uma aliança improvável com o Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), agora em sua forma “recombinante” (um dos arranjos de história mais ridículos dessa trilogia), criando uma ameaça dupla que força Jake a confrontar inimigos tanto externos quanto dilemas morais de seu povo.

Espetáculo Visual em Escala Épica

Se há algo que ninguém pode negar a James Cameron, é seu domínio absoluto da tecnologia cinematográfica e da narrativa visual. “Fogo e Cinzas” representa mais um salto técnico impressionante, mesmo para os padrões elevados estabelecidos pelos filmes anteriores.

As regiões vulcânicas de Pandora são renderizadas com detalhes deslumbrantes — rios de lava incandescente, paisagens carbonizadas que contrastam com a exuberância bioluminescente que conhecemos, e cavernas subterrâneas onde o fogo e a vida coexistem em equilíbrio precário. A cinematografia explora magistralmente esses novos biomas, criando sequências que são simultaneamente belas e ameaçadoras.

As cenas de ação são onde Cameron verdadeiramente brilha. Batalhas aéreas sobre correntes de lava fundida, combates terrestres em meio a erupções vulcânicas, e sequências submarinas em águas aquecidas por atividade geotérmica demonstram a capacidade do diretor de orquestrar caos visual sem perder clareza narrativa. A tecnologia de captura de performance continua evoluindo, permitindo que as expressões faciais dos atores transmitam suas nuances emocionais mesmo através das máscaras digitais dos Na’vi inseridas na pós produção.

A apresentação em taxa de quadros elevada (utilizada em “O Hobbit”) e versões em 3D também atingem novos patamares de imersão. Críticos que assistiram ao filme em IMAX 3D relatam uma experiência sensorial quase avassaladora, onde a tecnologia deixa de ser um truque e se torna parte integral da linguagem cinematográfica.

Desenvolvimento de Personagens: Avanços e Limitações

Mas vamos recuar alguns passos e discorrer um pouco sobre os personagens desta terceira história. Um dos aspectos mais elogiados de “Fogo e Cinzas” é o arco de desenvolvimento dos filhos de Jake e Neytiri. Lo’ak e Kiri, em particular, recebem atenção substancialmente maior do que no filme anterior, permitindo que suas personalidades e conflitos internos ganhem profundidade.

Lo’ak, interpretado por Britain Dalton em captura de performance, navega pela adolescência enquanto carrega o peso de ser o filho do meio — sempre comparado ao irmão perdido, constantemente tentando provar seu valor. Seu arco explora temas de rebeldia adolescente, busca por identidade e a luta para honrar a memória de Neteyam sem ser definido por ela.

Kiri, vivida por Sigourney Weaver, continua sua jornada espiritual, aprofundando sua conexão única com Eywa de maneiras que desafiam a compreensão tanto dos Na’vi quanto dos humanos. Sua história toca em questões de despertar espiritual, propósito e o fardo de possuir dons que você não pediu nem completamente compreende.

Kiri: sensibilidade Na’vi

Spider (Jack Champion), o humano criado entre os Na’vi, enfrenta dilemas de lealdade ainda mais complexos neste capítulo, especialmente considerando sua relação complicada com Quaritch. Seu arco questiona fundamentalmente o que significa pertencer a um lugar e a um povo.

No entanto, nem todos os personagens recebem o mesmo nível de atenção. Com um elenco tão vasto — incluindo os retornos de Kate Winslet, Cliff Curtis e outros, além das adições de Michelle Yeoh, David Thewlis e Jemaine Clement — alguns atores talentosos acabaram inevitavelmente subutilizados. Personagens que poderiam enriquecer significativamente a narrativa permanecem nas margens, reduzidos a participações funcionais quando mereciam mais detalhamento.

A Nova Vilã que Está Incendiando a Internet

Oona Chaplin merece menção especial por sua performance como Varang. A atriz, conhecida por seu trabalho em “Game of Thrones”, traz intensidade vulcânica ao papel, criando uma antagonista que é simultaneamente assustadora e compreensível. Chaplin (sim, ela é neta do mito Charles Chaplin) revelou que decorou seu trailer no set com “imagens vívidas e perturbadoras do tipo de trauma que Varang teria atravessado” e ouvia Slipknot para entrar no estado mental da personagem — um processo que claramente rendeu frutos.

Varang não é apenas mais uma vilã — ela representa a primeira vez na franquia em que a ameaça vem de uma facção Na’vi que rejeitou os princípios espirituais centrais de sua cultura. Isso adiciona camadas filosóficas ao conflito: será que um Na’vi que abandona Eywa ainda é verdadeiramente Na’vi? A sobrevivência justifica a traição de valores fundamentais? Essas questões elevam potencialmente o filme acima do mero espetáculo visual.

A reação nas redes sociais após o trailer foi explosiva, com fãs declarando Chaplin a nova rainha do cinema de fantasia épica e clamando por indicações ao Oscar. Embora o hype nas redes sociais nem sempre se traduza em reconhecimento artístico, é inegável que Varang capturou a imaginação do público de uma maneira que poucos antagonistas recentes conseguiram.

O Dilema da Narrativa Repetitiva

Apesar de todos os seus méritos técnicos e visuais, “Fogo e Cinzas” não escapa das críticas que têm perseguido a franquia desde o primeiro filme: a narrativa, para muitos, soa familiar demais.

A estrutura básica repete padrões estabelecidos: a família Sully encontra refúgio temporário, conhece uma nova cultura Na’vi, enfrenta ameaças tanto internas quanto externas, participa de sequências de ação espetaculares, e culmina em uma batalha épica onde o destino de Pandora está em jogo. Embora os detalhes mudem — agora é fogo em vez de água, vulcões em vez de oceanos — a fórmula fundamental permanece reconhecível e, portanto, criticável.

Jornalistas mais severos argumentam que Cameron parece tão fascinado com o mundo que criou que esqueceu de desenvolver uma narrativa verdadeiramente inovadora para habitá-lo. A descrição “um ornamento de capô de US$ 400 milhões para a era do blockbuster medíocre do século XXI” pode parecer dura, mas captura a frustração de espectadores que desejam ver Cameron desafiar suas próprias convenções narrativas tanto quanto desafia limites tecnológicos.

James Cameron: o criador e suas criaturas!

Os temas explorados (ambientalismo, imperialismo, choque cultural, o custo da sobrevivência) são indiscutivelmente importantes e bem-intencionados. No entanto, sua apresentação pode parecer pesada e didática, especialmente ao longo de mais de três horas. Cameron é um cineasta de convicções fortes, mas às vezes sua mensagem é entregue com a sutileza de um Leonopteryx dando um rasante na floresta.

Ritmo e Duração: Uma Faca de Dois Gumes

Com 195 minutos, “Fogo e Cinzas” não apenas é o filme mais longo da franquia, mas também testa a paciência e a resistência da bexiga dos espectadores. Cameron defendeu consistentemente seus longos tempos de execução, argumentando que mundos complexos exigem tempo adequado para respirar e se desenvolver. Há mérito nesse argumento: as melhores sequências do filme se beneficiam de um ritmo deliberado que permite que a emoção e o espetáculo ressoem.

No entanto, o segundo ato ocasionalmente perde certo momentum. Enquanto o primeiro ato estabelece eficientemente os conflitos e o terceiro entrega ação épica, o meio do filme por vezes se arrasta através de exposições e desenvolvimentos de subtramas que poderiam ter sido condensados sem sacrificar impacto narrativo.

Para fãs dedicados da franquia e admiradores do trabalho de Cameron, a duração provavelmente parecerá justificada — cada minuto adicional é mais tempo em Pandora, mais oportunidades para absorver os detalhes meticulosos que o diretor e sua equipe investiram. Para espectadores casuais ou céticos, especialmente aqueles que não se conectaram emocionalmente com os filmes anteriores, as mais de 3 horas de filme podem parecer excessivas para uma história cujas reviravoltas fundamentais eles já conhecem.

O Processo Criativo por Trás da Saga

Vale mencionar o extraordinário processo de desenvolvimento que tornou “Fogo e Cinzas” possível. Cameron reuniu uma equipe de roteiristas (Rick Jaffa, Amanda Silver, Josh Friedman e Shane Salerno) para um processo colaborativo de sete meses onde planejaram todos os 5 filmes Avatar simultaneamente.

A estratégia de Cameron foi deliberadamente não atribuir a cada escritor qual filme trabalhariam até o último dia do processo. “Eu sabia que se os designasse seus roteiros antecipadamente, eles desligariam sempre que estivéssemos falando sobre o outro filme”, explicou o diretor. Essa abordagem holística garantiu que todos os 5 filmes funcionassem como uma saga coesa, com sementes plantadas em filmes anteriores que só florescerão em capítulos posteriores.

A produção também marcou uma evolução no domínio de Cameron sobre as tecnologias que ele próprio ajudou a criar. “Dobramos o número de takes finalizados neste estágio do processo em comparação com o segundo filme, e os filmes têm durações aproximadamente iguais”, revelou o diretor. “Isso nos coloca bem à frente da curva, o que é algo que eu nunca, francamente, experimentei antes. Estamos chegando ao ponto onde realmente estamos ficando bons nisso.”

A resposta crítica a “Fogo e Cinzas” tem sido caracterizada por divisão acentuada — talvez mais do que qualquer filme anterior da franquia. No Rotten Tomatoes, o filme recebeu aprovação mista, tornando-se um dos trabalhos de Cameron com menor pontuação crítica em sua carreira. Interessantemente, os mesmos críticos que não apreciaram o filme ainda reconhecem que, para o público-alvo de Cameron (aqueles que valorizam uma experiência cinematográfica imersiva acima de inovação narrativa) “Fogo e Cinzas” entrega exatamente o que promete. É um filme que conhece sua audiência (que não é pequena, haja vista os bilhões de dólares das duas primeiras histórias) e serve a ela sem concessões.

Desempenho de Bilheteria e Projeções

As projeções iniciais para este fim de semana de abertura global de “Fogo e Cinzas” (sim, estão lançando o filme mundialmente) apontam para aproximadamente US$ 380 milhões — números monumentais para qualquer outro padrão, embora ligeiramente abaixo do desempenho de “O Caminho da Água”, que abriu com cerca de US$ 440 milhões globalmente.

Analistas de mercado atribuem a leve redução a vários fatores: fadiga de franquia após múltiplos adiamentos, competição mais intensa no mercado de fim de ano, e talvez uma saturação gradual do apelo de Pandora conforme a novidade diminui. No entanto, mesmo com números “reduzidos”, “Fogo e Cinzas” está caminhando para se tornar um dos maiores sucessos de 2025.

A verdadeira questão não é se o filme será lucrativo (claramente será) — mas se manterá as pernas longas nas bilheterias que caracterizaram seus predecessores. Tanto “Avatar” quanto “O Caminho da Água” não apenas abriram forte, mas continuaram atraindo público semana após semana, impulsionados pelo boca a boca e pela experiência de cinema premium. Se “Fogo e Cinzas” replicar esse padrão, pode ainda superar as projeções conservadoras iniciais.

O Legado de Cameron e o Futuro da Franquia

“Fogo e Cinzas” representa um ponto crucial na jornada de Cameron como cineasta. Aos 71 anos, ele permanece um dos poucos diretores com poder absoluto para realizar sua visão artística em escala épica, livre das restrições orçamentárias ou criativas que limitam a maioria dos cineastas. Essa liberdade é simultaneamente o maior trunfo e pode ser a maior fraqueza do filme.

Cameron nunca foi um diretor de sutilezas (sua força sempre residiu em contar histórias arquetípicas humanas em escalas sobre-humanas). Quando elas funcionam (quem não se lembra de “Exterminador do Futuro 2”? Ou do primeiro “Avatar”?), o resultado é cinema popular em sua forma mais potente e acessível. Quando não funciona perfeitamente, como é o caso de “O Segredo do Abismo”, a falta de moderação pode fazer com que suas falhas narrativas se tornem mais evidentes.

Com dois filmes adicionais já planejados (Avatar 4 em 2029 e Avatar 5 em 2031), Cameron está comprometido com a longínqua Pandora para o futuro previsível. A questão permanece se ele encontrará maneiras de renovar narrativamente a franquia ou se continuará refinando e expandindo a mesma fórmula básica. Não há nada de errado com isso, veja bem. Enquantou houverem milhões de pessoas “viajando” em suas narrativas e bilhões de dólares chegando aos cofres dos estúdios, Cameron está livre de qualquer julgamento mais duro.

Se você espera que um blockbuster de US$ 400 milhões traga inovação narrativa proporcional à sua ambição visual, ou se você já não se conectou com os filmes anteriores de Avatar, então “Fogo e Cinzas” provavelmente não é para você. Mas se deseja surpreender-se com o que o que há de mais moderno na produção de cinemas neste ano da graça de 2025, certamente você passará longe da frustração. É inegável que Cameron permanece como um mestre artesão do cinema atual, alguém cuja dedicação à criação de mundos e à tecnologia cinematográfica não tem paralelo na Hollywood contemporânea. “Fogo e Cinzas” pode não ser revolucionário narrativamente, mas como demonstração de virtuosidade técnica e comprometimento com uma visão artística singular, é impossível de ignorar.

No final, a decisão de assistir “Avatar: Fogo e Cinzas” resume-se a uma pergunta simples: você quer voltar a Pandora? Se a resposta for sim (se você sentiu saudades das florestas bioluminescentes, dos Ikran voando pelos céus, da família Sully e da música de Pandora) então Cameron preparou um banquete visual de três horas e quinze minutos para você. Bom apetite!

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