NETFLIX
JAY KELLY
Drama / EUA
Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Noah Baumbach & Emily Mortimer
Classificação indicativa: 18 anos (linguagem adulta)
Elenco: George Clooney, Adam Sandler, com participações de Laura Dern, Billy Crudup e Riley Keough.
Produção: Pascal Pictures, Heyday Films e NB/GG Pictures.
“Jay Kelly” chega como um dos lançamentos mais aguardados do final de 2025, reunindo o tino dramático de Baumbach com um elenco de peso. O filme faz algo raro: mistura sátira — com humor ácido sobre a máquina de Hollywood — e uma crise existencial profunda, de forma melancólica, honesta e por vezes comovente. A premissa é simples: um astro famoso (interpretado por George Clooney) embarca em uma viagem pela Europa com seu fiel empresário (Adam Sandler), e ambos acabam confrontando seus dilemas pessoais, escolhas de vida e o legado que querem deixar.
Há algo de tocante e melancólico nessa jornada. Clooney, interpretando Jay Kelly, entrega uma performance marcada por vulnerabilidade — o brilho e o charme naturais do astro dão lugar a inseguranças, arrependimentos e questionamentos profundos. Sandler, por sua vez, surpreende: seu Ron, o empresário, funciona como contrapeso emocional e humano, oferecendo apoio, firmeza e até ternura num contexto de fama vazia. A química entre os dois sustenta o filme e dá credibilidade à vulnerabilidade do protagonista.
Visualmente, o filme se destaca: a fotografia assinada por Linus Sandgren dá ao road-movie europeu uma textura elegante, alternando momentos de contemplação silenciosa com o caos glamuroso do showbiz. A trilha sonora de Nicholas Britell reforça o tom ao mesmo tempo melancólico e esperançoso, equilibrando humor e drama.
No entanto — e talvez inevitavelmente — “Jay Kelly” pende às vezes para o autoindulgente. Há momentos em que o retrato da crise de meia-idade e do vazio existencial poderia soar excessivamente familiar ou até piegas para quem já viu outros filmes sobre decadência de celebridades. Alguns críticos apontam que o tom melancólico, embora sincero, carece de conflito mais intenso ou originalidade narrativa.
Mas, mesmo com esses deslizes, o balanceamento entre crítica social (sobre fama, sucesso, legado) e drama íntimo — somado a atuações fortes — faz de “Jay Kelly” uma obra honesta, às vezes dolorosa, reflexiva e humana. Para quem gosta de cinema de autor com pitadas de Hollywood realista, é uma aposta certeira. Para fãs de “filmes que incomodam e fazem pensar”, vale cada minuto.
Em resumo: “Jay Kelly” não é um retrato glamouroso da fama — é um espelho cruel e sensível sobre escolhas, arrependimentos e até a possibilidade de redenção.
HBO MAX
LADRÕES (Caught Stealing)
Policial / EUA
Classificação indicativa: 16 anos.
Direção: Darren Aronofski
Roteiro: Roteiro de Charlie Huston (com base em seu livro Caught Stealing).
Elenco: Austin Butler, Zoë Kravitz, Matt Smith, Regina King, Liev Schreiber, Vincent D’Onofrio,
Quando o diretor Darren Aronofsky (conhecido por dramas densos e intensos como “Cisne Negro” ou “A Baleia”) decide mergulhar no universo do crime, com humor negro e ritmo acelerado, o resultado é “Ladrões”: um thriller criminal cujo sabor é de adrenalina, absurdos e caos estilizado. A premissa é inusitada: um ex-atleta frustrado, interpretado por Austin Butler, cujo cotidiano pacato se desmorona quando um favor aparentemente inocente (cuidar do gato de um vizinho) o arrasta para uma teia de gângsteres, violência, dívidas e perseguição, e a trama transforma esse enredo banal em uma montanha-russa de tensão e humor ácido.
O filme surpreende justamente por essa guinada incomum na carreira de Aronofsky: ao invés de mergulhar em dilemas existenciais, ele usa seu talento para ritmo e atmosfera para construir uma história simples, porém explosiva. Muitos críticos elogiam isso: como dito por um crítico, “‘Ladrões’ não tem nada de Darren Aronofsky… e isso é muito bom.”
Butler entrega um protagonista crível: vulnerável, tenso, cheio de receios, longe do estereótipo do herói. Sua performance oferece humanidade e nervosismo, fazendo com que o público simpatize com sua luta por sobrevivência. A coadjuvante Zoë Kravitz acrescenta carisma e serve como âncora emocional numa narrativa que beira o caos, contribuindo para o contraste entre o ordinário e o infernal.
O ritmo do filme é seu ponto alto: em 1h47 de duração, “Ladrões” não poupa violência, absurdos e reviravoltas, tiros, perigos inesperados, perseguições e personagens excêntricos que vivem aparecendo na jornada. Há momentos de humor negro e toques de ironia, o que dá certa leveza (ainda que sombria) ao conjunto.
Mas o filme também tem fragilidades: a própria ambição de misturar crime, humor e caos faz com que, em alguns momentos, o tom oscile entre sombrio e debochado, o que pode desconcertar. A história, ainda que funcional, não busca profundidade psicológica ou simbólica: não há grandes dilemas morais, apenas a luta pela sobrevivência e fuga. Para quem espera a densidade habitual de Aronofsky, “Ladrões” pode soar superficial.
Em resumo: “Ladrões” funciona como um entretenimento acelerado e intenso (também sujo e imprevisível, às vezes violento e brutal), mas também perversamente divertido. Não é um filme para quem busca reflexão profunda, mas para quem gosta de adrenalina, caos e tramas de crime com sabor de “noir contemporâneo”
O ESQUEMA FENÍCIO
Suspense / Policial / EUA
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola
Elenco: Benicio del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera; coadjuvantes incluem entre outros Tom Hanks, Scarlett Johansson, Riz Ahmed, Benedict Cumberbatch, Jeffrey Wright, Richard Ayoade, Rupert Friend, Bryan Cranston e Willem Dafoe.
“O Esquema Fenício” traz tudo aquilo que se espera de um filme de Wes Anderson: estética distinta, humor excêntrico, personagens caricatos, cor e simetria em cada plano — mas também propõe uma saída menos “adorável” do habitual: há espionagem, traição, ambição, um jogo de poder familiar e uma atmosfera de negócios obscuros.
A trama gira em torno de um magnata bilionário, Zsa‑Zsa Korda (interpretado por Benicio del Toro), que sobrevive a diversos acidentes e decide nomear como herdeira única sua filha — uma freira, Liesl (Mia Threapleton) — colocando-a no comando de um ambicioso “esquema”. A partir daí, reviravoltas, conspirações e uma sucessão de personagens (de tutores a investidores, de aliados a inimigos) criam uma teia de tensão, ambiguidade moral e humor negro.
Visualmente, o filme mantém a assinatura de Anderson com maestria: os cenários são coloridos, quase teatrais, com uma mise-en-scène que ressalta o cinema como arte pictórica. A direção de arte, a fotografia, o ritmo calculado e o timing cômico criam um equilíbrio entre o absurdo e a tensão e, em vários momentos, o humor serve como contraponto à gravidade das circunstâncias (negócios, traições, morte).
No entanto (e talvez esse seja o principal ponto de crítica) a ambição do projeto às vezes pesa. A fórmula “visual + humor + elenco estelar + enredo conspiratório” (já marcante nos filmes anteriores de Anderson) corre o risco de soar repetitiva para quem o acompanha há décadas. Há quem argumente que o charme transita para o “postiço”: personagens muitas vezes são mais ícones visuais que humanos de carne e osso, e a reverência ao estilo pode obscurecer a profundidade dramática da história.
Além disso, a narrativa — com múltiplos arcos e subtramas — se beneficia da paciência do espectador; para quem espera algo mais objetivo ou linear, o ritmo irregular pode incomodar. O filme exige envolvimento e entrega: quem busca “apenas diversão leve” pode gostar; quem busca impacto emocional ou comentário social profundo talvez sinta falta de maior densidade.
Disney+
DIÁRIO DE UM BANANA: A GOTA D’ÁGUA
Comédia / Animação / Família / EUA
Criador: Jeff Kinney
Produtoras: 20th Century Studios
Vozes: Aaron D. Harris como Greg Heffley; Chris Diamantopoulos como Frank Heffley (pai)
“Diário de um Banana: A Gota d’Água” retoma o humor leve e as trapalhadas adolescentes da franquia de maneira fiel ao espírito dos livros de Jeff Kinney. A animação entrega um ambiente leve, familiar e acessível — ideal para crianças e adolescentes, mas também para pais que querem revisitar o universo de Greg Heffley com nostalgia.
O filme equilibra bem momentos de comédia pastelão (quedas, confusões, situações embaraçosas típicas da adolescência) com a tensão emocional da relação entre Greg e seu pai: a expectativa paterna, a pressão para “melhorar” e o medo de decepcionar. Esse conflito — universal e realista — dá um toque de honestidade emocional mesmo em meio ao caos cômico.
A dublagem original (e, presumivelmente, as edições para o português) funciona com naturalidade, mantendo o tom leve e irreverente. A narrativa não se complica demais: não tenta ser profunda, nem dramática — sua força está justamente na simplicidade e na identificação com os pequenos dilemas escolares e familiares.
Por outro lado, por seguir uma estrutura relativamente previsível e atender a um público mais jovem, o filme não surpreende. Quem já leu os livros ou acompanhou adaptações anteriores pode sentir falta de originalidade ou de alguma reviravolta corajosa. A jornada de Greg permanece segura — o que, para alguns, pode soar “conservador demais”.
Em suma: “A Gota d’Água” não pretende reinventar nada — mas faz o que promete com competência: é uma comédia leve, divertida, ideal para quem quer rir das confusões da adolescência e, ao mesmo tempo, reconhecer as pressões que vêm de casa. Uma boa pedida de entretenimento familiar no streaming.
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