filmes em cartaz

Filmes em Cartaz no Cinema – Destaques de Quinta 04 de dezembro de 2025

Divirta-se Cinema

ETERNIDADE

Fantasia / Romance – EUA

Direção: David Freyne

Roteiro: Pat Cunnane e David Freyne

Elenco: Elizabeth Olsen, Miles Teller, Callum Turner, Da’Vine Joy Randolph, John Early e Olga Merediz

Produção: Star Thrower Entertainment / A24 Pictures

Eternidade tenta reinventar o típico romance do pós-vida com charme e originalidade — e, por vezes, consegue. A premissa é simples e instigante: depois da morte, as almas vão para um tipo de “limbo” onde têm apenas uma semana para escolher onde e com quem passar a eternidade. A protagonista, Elizabeth Olsen, acorda jovem novamente e se vê diante de um dilema impossível: permanecer ao lado de Miles Teller, com quem viveu por décadas, ou seguir com Callum Turner (seu primeiro amor, falecido na juventude) que esperou por ela por décadas no além.

A força do filme está no contraste entre a comédia romântica leve e os dilemas existenciais que surgem dessa escolha: amor, memória, arrependimento e culpa. Olsen, Teller e Turner formam um trio com boa química, capaz de transmitir tanto ternura quanto angústia — algo essencial para que o público realmente se importe com a decisão da personagem.

Por outro lado, o filme nem sempre consegue equilibrar seus elementos. Em alguns momentos, a tentativa de combinar romance, humor e questionamentos metafísicos resulta em tonalidade instável, e o ritmo pode parecer lento, principalmente quando a história tenta aprofundar os aspectos dramáticos. Para quem busca leveza pura, o tom reflexivo pode pesar; já quem espera um drama existencial intenso, talvez sinta que o filme não mergulhou fundo o bastante. Ainda assim, Eternidade entrega uma experiência honesta capaz de emocionar e fazer pensar, mesmo com alguns ajustes a serem feitos.

FOI SÓ UM ACIDENTE

Drama – Irã / França / Luxemburgo

Direção: Jafar Panahi

Roteiro: Jafar Panahi

Elenco: Vahid Mobasseri, Mariam Afshari, Ebrahim Azizi.

Produção: Les Films Pelléas, Bidibul Productions e Pio & Co.

Foi Apenas um Acidente chega com o peso de um prêmio máximo: a Palma de Ouro de 2025. E não decepciona para quem busca um cinema que incomoda, questiona e provoca. O diretor Jafar Panahi entrega uma narrativa crua e intensa sobre justiça, memória e culpa: o filme se estrutura a partir de um encontro fortuito que acende feridas do passado, transformando o acaso em um gatilho de vingança e paranoia. A tensão cresce gradualmente, com diálogos fortes e imagens que não romantizam sofrimento, em vez disso, expõem a brutalidade do trauma e do desejo de justiça de quem foi ferido.

O que mais impressiona no longa é sua capacidade de fazer do silêncio, do olhar e da dúvida instrumentos poderosos de narrativa. Panahi não depende de cenas violentas ou sensacionalistas para chocar: ele confia na construção do clima, nas reações dos personagens e no peso da memória para carregar o drama. Isso gera um desconforto real (até mesmo necessário) que obriga o espectador a pensar sobre responsabilidade, coincidência e a tênue linha entre justiça e vingança.

Por outro lado, o ritmo deliberadamente contido e o clima de tensão quase sufocante podem tornar a experiência pesada. Este não é um filme para entretenimento leve: ele exige envolvimento emocional. E, por causa disso, pode não agradar quem espera um desfecho reconfortante ou uma narrativa linear. Mas se você estiver aberto a um cinema instigante e inquietante, Foi Apenas um Acidente oferece exatamente o tipo de experiência potente, aquela que incomoda e ecoa depois dos créditos.

CYCLONE

Drama histórico – Brasil

Direção: Flávia Castro

Roteiro: Rita Piffer

Elenco: Luíza Mariani, Eduardo Moscovis, Karine Teles, entre outros.

Produção: Mar Filmes e Muiraquitã Filmes, em coprodução com VideoFilmes.

Cyclone chega com força — e urgência — ao colocar no centro da tela a voz de uma mulher determinada a lutar por seu espaço em uma sociedade atrasada. A ambientação na São Paulo de 1919 constrói um retrato histórico potente para esta obra livremente inspirada em “O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo”, obra de Oswald de Andrade, em que a protagonista, Dayse (interpretada por Luíza Mariani), divide seu tempo entre o ofício humilde de operária de gráfica e o sonho de ser dramaturga, mostrando o quanto o talento e a ambição femininos eram reprimidos por convenções sociais. Isso empresta ao filme um peso dramático que ressoa com dilemas atuais — a luta por autonomia, reconhecimento e liberdade criativa.

A direção de Flávia Castro demonstra sensibilidade e firmeza ao retratar o conflito interno de Dayse, além dos choques externos com preconceito, misoginia e cerceamento. A narrativa não romantiza o passado — ela expõe as estruturas opressoras com honestidade, sem perder a humanidade dos personagens. A construção da protagonista como mulher de fibra, vendo seus sonhos ameaçados por uma gravidez inesperada e por uma sociedade conservadora, confere ao filme uma urgência emocional real.

A sensibilidade estética e o cuidado com os detalhes (direção de arte, cenários, figurino) são admiráveis, mas quem busca um cinema leve ou escapista pode se sentir desconfortável com o peso emocional e moral da trama. Ainda assim, Cyclone funciona como um cinema de resistência: honesto, pertinente, necessário… e sobretudo, corajoso em dar voz a quem historicamente sempre foi deixada em segundo plano.